CONDESSA DE IGUAÇU: A FILHA REJEITADA DE D. PEDRO I — MARIA ISABEL DE ALCÂNTARA BOURBON

Apaixonados por Historia
20 min readFeb 20, 2023
Foto edição pertencente ao Canal Apaixonados por História, para usá-la dê os créditos.

Esse vídeo será dividido em duas partes. A primeira parte contará como foi o início da vida de Maria Isabel de Alcântara Bourbon, a última filha do Imperador Dom Pedro I e sua amante favorita, Domitila de Castro.

A segunda parte contará como foi o desastroso casamento de Maria Isabel com o Conde de Iguaçu até o fim de sua vida.

Você está assistindo a Parte I. Parte II.

Entre maio e junho de 1829 a Marquesa de Santos, Domitila de Castro engravidou. Dom Pedro I não acreditava que a criança que estava no ventre de sua amante era dele. Não sabemos o motivo, mas o Imperador tinha fortes desconfianças que não era o pai da criança. Ele terminou definitivamente seu relacionamento com Domitila no dia 30 de maio de 1829, justamente no dia que foi confirmado seu casamento com a princesa bávara Amélia de Leuchtenberg.

✎ Atenção: Você está autorizado a compartilhar o texto ou parte dele, desde que cite a fonte dessa forma: Texto publicado pela Professora Sabrina Ribeiro no Canal Apaixonados por História. Disponível em: (Cole o link do texto ou do vídeo aqui)

Assim que Dom Pedro I ficou sabendo da confirmação de seu casamento com a jovem princesa, ele expulsou sua amante do Rio de Janeiro, banindo-a grávida para São Paulo. O segundo casamento de Dom Pedro I foi arranjado pelo Marquês de Barbacena e pelo Visconde de Pedra Branca.

Não sabemos se é verdade, mas em uma história de família passada de geração em geração, dizem que ao saber da gravidez de Domitila de Castro, Dom Pedro I teve um ataque de fúria e no momento da explosão de raiva, o Imperador teria tentado esganar a Marquesa de Santos, dizendo que o filho não era dele. Um dos irmãos de Domitila, chamado José de Castro estava presente no momento e conseguiu evitar que Dom Pedro I matasse Domitila. José de Castro afirmava que daria sua própria cabeça em uma bandeja ao Imperador, se o filho que estava no ventre de Domitila não fosse de Dom Pedro I.

A Marquesa de Santos foi praticamente expulsa do Rio de Janeiro, mas antes de partir, Domitila vendeu todas as suas propriedades, casas, chácaras e bens ao imperador e voltou rica para a pacata cidade de São Paulo.

SE VOCÊ QUISER SABER MAIS SOBRE A VIDA DA AMANTE FAVORITA DE DOM PEDRO I, ENTÃO ASSISTA O VÍDEO: DOMITILA DE CASTRO (PARTE I) MARQUESA DE SANTOS

Como dissemos Domitila de Castro engravidou em meados de maio de 1829 e quando estava no oitavo mês de gestação decidiu pular o Carnaval de 1830 em São Paulo. Durante uma das brincadeiras, chamada entrudo, as pessoas atacavam bolas de cera com água, tinta e groselha, chamadas laranjinhas ou limões de cheiro umas nas outras.

Durante tal brincadeira, a Marquesa de Santos foi atingida na barriga por uma dessas laranjinhas de cera com água perfumada. O colar que Domitila usava na ocasião com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, acabou machucando a cabeça da bebezinha ainda na barriga.

Sobre o fato, a própria menina que estava no ventre da Marquesa deixou registrado anos mais tarde:

“Estando ela por infelicidade dela e minha com uma imagem da Senhora da Conceição que ela sempre trazia ao pescoço pendente, e justamente caiu a laranjinha sobre ela, e eu, que estava de frente, fui que levei a Conceição na testa. Desde esse dia até o dia 28 eu levei de convulsões no ventre de minha mãe. Nasci com a testa metida para dentro com a imagem perfeita. Foi preciso eu ficar ano e meio presa no quarto e tudo calafetado (ou seja, abafado) para eu não apanhar ar para assim eu ficar perfeita da testa.”

A menina havia herdado a rara condição de epilepsia do pai.

A Marquesa de Santos deu a luz a sua quinta e última filha com Dom Pedro I no dia 28 de fevereiro de 1830. De início Domitila não deu nenhum nome a menina e ficou aguardando o Imperador entrar em contato para dizer se iria assumir a paternidade da filha.

Como Dom Pedro I não assumiu a paternidade da criança, a ex-amante decidiu batizar a menina somente depois da partida de Dom Pedro I para a Europa. O ex-imperador abdicou no dia 7 de abril de 1831 e no dia 24 de maio de 1831, Domitila batizou a menina na casa de Dona Escolástica, a Viscondessa de Castro. No assentamento de batismo feito pelo bispo Manuel Joaquim aparece que era uma criança abandonada e filha de pais incógnitos.

A bebezinha recebeu o mesmo nome de sua falecida irmã, Maria Isabel de Alcântara Bourbon. Como Dom Pedro I não assumiu a paternidade da criança, a Marquesa acabou adotando esse sobrenome Bourbon para a filha bastarda. Alguns historiadores também a chamam de Maria Isabel de Alcântara Bourbon II.

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Domitila decidiu registrar Maria Isabel II como criança abandonada, pois isso facilitaria a alteração no registro mais tarde, caso o Imperador mudasse de ideia e quisesse assumir a paternidade publicamente, como havia feito com a filha mais velha do casal Isabel Maria de Alcântara Brasileira.

Ainda no registro de batismo consta que a menina foi abandonada na casa de Dona Escolástica Bonifácia de Toledo Ribas, sua própria avó.

Em julho de 1830 o Marquês de Resende entrou em contato com Marquesa de Santos em nome do Imperador. Na carta, parece que Dom Pedro I acabou se convencendo que a caçula era realmente sua filha, diz que sempre teve certeza de que a menina era filha dele e que gostaria que a menina fosse mandada a Europa para receber a mesma educação que a Duquesa de Goiás.

Dom Pedro I nunca conheceu sua última filha com Domitila, pois quando sua amante foi banida para São Paulo, ela estava com poucas semanas de gravidez. Depois disso, nunca mais o Imperador reencontrou sua ex-amante.

Em 1834 o antigo imperador, que agora estava morando em Portugal adoeceu, antes de falecer, Dom Pedro I deixou uma carta recomendando que sua esposa Dona Amélia cuidasse de suas filhas bastardas com Domitila.

“[…] Recomendo a sua majestade imperial a senhora Dona Amélia Augusta Eugênia de Leuchtenberg, Duquesa de Bragança, minha querida e adorada esposa, que chame para ao pé de si […] àquela menina que lhe falei e que nasceu na cidade de São Paulo no Império do Brasil no dia vinte e oito de fevereiro de mil oitocentos e trinta, e desejo que esta menina seja chamada a Europa para receber igual educação que se está dando à mina sobredita filha a Duquesa de Goiás […].”

Ao todo, Dom Pedro I e sua amante Domitila de Castro, a Marquesa de Santos tiveram cinco filhos juntos.

Sobre o primeiro filho do casal, existem algumas divergências, alguns historiadores dizem que o bebê nasceu morto em 1823, outros afirmam que Domitila sofreu um aborto espontâneo.

A segunda criança foi Isabel Maria de Alcântara Brasileira, a famosa Duquesa de Goiás, nascida em 1824, filha preferida do Imperador Dom Pedro I.

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O terceiro bebê foi Pedro de Alcântara Brasileiro que nasceu e morreu em 1825.

A quarta criança foi Maria Isabel de Alcântara Brasileira I, nascida em 1827 e falecida no mesmo ano.

E a quinta e última criança do casal foi Maria Isabel de Alcântara Bourbon II, nascida em 1830, tema desse vídeo.

Das crianças de Domitila e Pedro, apenas Isabel Maria, Duquesa de Goiás e Maria Isabel chegaram a idade adulta. A Duquesa de Goiás era a filha predileta do Imperador, e por essa razão ele decidiu afastar a menina de Domitila e mandá-la para estudar em um dos melhores colégios de freiras da Europa, dessa forma, a menina foi enganada e separada de sua mãe Domitila para sempre.

Ainda antes de morrer, o Imperador pediu que Dona Amélia de Leuchtenberg continuasse sustentando a mentira para Duquesa de Goiás que sua mãe era uma mulher desconhecida que havia falecido no parto.

Isabel Maria a Duquesa de Goiás, passou décadas acreditando que sua mãe havia falecido, ela não sabia da existência de sua irmãzinha Maria Isabel no Brasil.

SE VOCÊ QUISER ENTENDER MELHOR ESSA HISTÓRIA, ENTÃO ASSISTA O VÍDEO: DUQUESA DE GOIÁS (PARTE I) ISABEL MARIA DE ALCÂNTARA BRASILEIRA

Assim que o Duque de Bragança Dom Pedro faleceu em 1834, Dona Amélia entrou em contato com a Marquesa de Santos, para que ela autorizasse que Maria Isabel, a última filha que havia nascido em 1830 fosse enviada a Europa para receber a mesma educação da Duquesa de Goiás. Entretanto Domitila não respondeu as cartas dos diplomatas nem de Dona Amélia. Provavelmente, a Marquesa de Santos não queria perder sua outra filha com Dom Pedro I.

Toda a corte paulista sabia que Maria Isabel era e última filha bastarda de Dom Pedro I com a Marquesa de Santos.

Em 1833 Domitila de Castro Canto e Melo na época com 36 anos uniu-se a Rafael Tobias de Aguiar, um rico fazendeiro e político paulista, da cidade de Sorocaba, ele era considerado o homem mais rico de São Paulo. O brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar gostava muito de sua enteada Maria Isabel e a tratava muito bem, anos mais tarde Maria Isabel recordaria com afeto de seu querido padrasto, a qual chamava de “compadre”.

Aliás, você sabia que o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, segundo marido da Marquesa de Santos é o patrono da Polícia Militar do Estado de São Paulo? Seu nome homenageia o primeiro batalhão de Choque, chamado Batalhão Tobias de Aguiar, responsável pela ROTA — Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar.

Continuando, Maria Isabel de Alcântara Bourbon sofria de epilepsia, assim como muitos de seus irmãos, filhos do Imperador Dom Pedro I. Durante os seus sete primeiros anos de vida, Maria Isabel sofreu três convulsões, a última convulsão foi tão grave, que o médico Dr. Ellis chegou a dizer para Domitila que sua filha nunca mais se recuperaria, mas a menina conseguiu se restabelecer.

Ainda na infância quando Maria Isabel não queria fazer as lições, a Marquesa de Santos a trancava no quarto para pensar, como forma de castigo. A sogra de Domitila, ou seja, a mãe de Rafael Tobias de Aguiar, chamada Dona Gertrudes Eufrosina Aire, já debilitada e idosa pedia para que Domitila tirasse a menina do castigo e logo depois da Marquesa abrir a porta, Maria Isabel corria para os braços de Dona Gertrudes em sua cadeira de rodas.

Provavelmente a doença que Maria Isabel tinha herdado do pai, a fazia ser muito paparicada e mimada por sua família.

Em julho de 1839, Maria Isabel seguiu para o Rio de Janeiro junto com sua mãe por recomendação médica em busca de “ares melhores” que curavam as pessoas de várias doenças. Seguiram junto a Marquesa e sua filha, seus filhos, o mais velho chamado Felício de 23 anos e o pequeno Rafael de 5 anos. O companheiro da Marquesa, Rafael Tobias de Aguiar seguiu sua companheira e sua irmã Maria Benedita de Castro também foi. Além disso dois escravizados foram levados com a família para a viagem a capital imperial.

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A viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro por sua vez, foi um desastre, a embarcação que levava a família passou por uma grande tempestade, fazendo o barco ficar parado por três dias em São Sebastião.

Em meio a tanta tribulação entre as ilhas e o mar agitado, Domitila de Castro agarrou sua filha Maria Isabel, e chorando muito, rezava dizendo:

— Tu és muito infeliz, minha filha. Se na primeira viagem que fazes sofres
tanto, o que será da tua vida daqui por diante?

No Rio de Janeiro, Domitila se hospedou na casa da Marquesa de Jacarepaguá. Nessa altura Títilia contava com 42 anos e Maria Isabel 9, a Marquesa levou a menina ao Rio de Janeiro e matriculou-a no Colégio Hitchings localizado no Botafogo, ao chegar lá a Marquesa de Santos se deparou com os representantes da antiga Imperatriz Amélia que tentavam cumprir o desejo do falecido Imperador Dom Pedro I, de levar Maria Isabel para ser educada na Europa ao lado da Duquesa de Goiás.

Na ocasião a Marquesa de Santos demonstrou concordar com o desejo do Imperador de mandar a menina a Europa, mas disse que era melhor adiar a viagem, pois Maria Isabel havia herdado a doença neurológica do pai. Domitila afirmava que apesar disso, a menina não era de forma alguma, um fardo em sua vida.

Em agosto de 1839 Maria Isabel foi matriculada no Colégio exclusivo para meninas da elite carioca, chamado Colégio Hitchings, dirigido pela Madame Hitchings. Em companhia da menina foi hospedada Vicência a “mãe-preta” de Maria Isabel que também passou a morar no colégio.

Já no Colégio Hitchings, Maria Isabel era paparicada por sua mestra, chamada Miss Potter. Dizem que quando as crianças queriam pedir algo para a diretora, elas sempre pediam para que Maria Isabel fosse suplicar a superiora, pois Miss Potter sempre dizia sim aos caprichos da adorável menina.

Um ano se passou e em 1840 a antiga imperatriz Dona Amélia entrou em contato com Domitila para tentar mais uma vez, levar Maria Isabel para a Europa, mas a Marquesa recusou o pedido de forma educada e diplomática, provavelmente Domitíla tinha receio sobre a saúde da garota e não queria perder sua outra filha.

Em 1840 Rafael Tobias de Aguiar foi eleito novamente como presidente da província de São Paulo, Domitila de Castro, agora era vista como a primeira-dama, juntos desde 1833 o casal ainda não havia contraído matrimônio, isso era um escândalo para a sociedade paulistana, que fazia vista grossa. No ano que Rafael Tobias de Aguiar assumiu o governo de São Paulo sucederam alguns impasses políticos, que culminaram em uma revolta.

No dia 14 de junho de 1841, em meio a turbulência e por motivos financeiros Domitila de Castro e Rafael Tobias de Aguiar decidiram se casar. Na casa de Dona Gertrudes foi preparado um lindo altar, a Marquesa de Santos usava um luxuoso vestido e joias, Rafael Tobias de Aguiar usava um roupa de gala. Naquele dia foi oficializado o casamento do casal que estava junto a mais de sete anos.

Após a comemoração Domitila foi ao encontro de sua filha Maria Isabel e abraçando e beijando a menininha, disse que tinha se casado para que a garota nunca sentisse vergonha de sua mãe.

Nesse período Domitila acabou tirando Maria Isabel do Colégio, após três anos matriculada.

A revolta que acontecia em São Paulo no ano de 1842 envolvia Rafael Tobias de Aguiar que decidiu fugir, Domitila e a família se refugiaram no Convento de Santa Clara, localizado em Sorocaba, pois a abadessa era prima de Rafael Tobias e iria amparar todas as mulheres e crianças da família.

Alguns dias depois, Domitila ficou sabendo que as tropas de Caxias iriam revistar o convento, pois suspeitavam que Rafael Tobias estava lá escondido.

As freiras e as mulheres que habitavam o convento estavam com muito medo do que poderia acontecer, caso as tropas do exército invadissem o convento, mas Domitila perspicaz, em meio as incertezas e ao caos, decidiu enterrar as joias e tesouros no pátio do Convento, pois temiam por serem saqueadas ou terem seus bens confiscados.

A terra do chão do pátio do convento era consistente e densa, custava muito trabalho cavar um buraco naquele local. Domitila de Castro vendo a dificuldade que as freiras enfrentavam para cavar o buraco, ágil como era, apanhou a enxada e rapidamente começou a abrir um buraco para enterrar as joias.

Sua filha, Maria Isabel deixou registrado sobre a cena:

(…) de repente vi mamãe pegar no machado. Quando mamãe o deixou cair, vimos faíscas de fogo e pedaços de terra saltar (…). Batíamos palmas nas janelas e dávamos bravos a mamãe. Eu não pude me conter, gritei:

“-Logo vi que havia de ser mamãe quem devia de abrir os buracos, todas as que lá estão são umas moleironas, nenhuma tem força como mamãe, viva mamãe.”

Depois que a ativa Marquesa de Santos enterrou os tesouros, entrou pelos portões do Convento um secretário de Caxias que desejava falar com a abadessa, pois recebia ordens para revistar o convento. Os militares que procuravam Rafael Tobias de Aguiar nada encontraram.

O tempo passou, Domitila recuperou seus tesouros enterrados, e as coisas entraram nos eixos.

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O Imperador Dom Pedro II, que era meio-irmão de Maria Isabel, deu a sua irmã bastarda diversas terras, propriedades e bens, como gados e pastos localizados em Minas Gerais.

Os anos passaram e Maria Isabel de Alcântara Bourbon tornou-se uma moça muito bela, mas com uma personalidade um pouco difícil de lidar.

Ela acabou se casando anos mais tarde, mas seu casamento foi extremamente infeliz. Se você quiser saber como foi o fim da vida da caçula de Dom Pedro I e Domitila, então assista a Parte II.

CASAMENTO

No dia 2 de setembro de 1848, quando Maria Isabel contava com 18 anos ela se casou com Pedro Caldeira Brant, o Conde de Iguaçu, de 34 anos. Maria Isabel tornou-se a segunda esposa e Condessa Consorte de Iguaçu. Pedro Caldeira Brant era filho do Marquês de Barbacena, o mesmo que havia arranjado o casamento entre Dom Pedro I e Dona Amélia.

O conde de Iguaçu, tentou entrar em contato com sua cunhada Duquesa de Goiás, ele enviou cartas endereçadas a a Alemanha tentando revelar de alguma forma para sua cunhada que ela tinha uma família no Brasil, já que Isabel Maria havia sido enganada a vida toda.

Na carta enviada ao Castelo de Holzen, Pedro Caldeira Brant escreveu ao esposo da Duquesa de Goiás:

Senhor conde,
Eu tenho a honra de lhe participar do meu casamento com a senhorita d. Maria Isabel de Alcântara e Bragança, irmã da madame duquesa de Goiás, vossa nobre esposa.
Espero que estas alianças que contraí com pleno consentimento e aprovação de S. M. o Imperador do Brasil, meu Augusto Amo, recebam a vossa aprovação e que vós queirais doravante me considerar não somente um de vossos parentes, mas também um de vossos amigos.
A condessa se dirigiu diretamente à Sra. Duquesa para prestar-lhe os esclarecimentos necessários, e como tencionamos fazer uma viagem pela Europa no ano que vem, rogo-vos que nos informeis o local de vossa residência, a fim de que possamos juntar-nos a vós.
Queira o Sr. Conde apresentar meus respeitos à Sra. Duquesa, e aceitar meus protestos de sincera amizade e da mais alta consideração, com a qual sou, etc.
Vosso totalmente devotado parente e amigo
Senhor conde.

A carta do Conde de Iguaçu foi barrada pelo Conde de Treuberg, que não deixou que sua esposa descobrisse o segredo de família.

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Desde o início, o casamento entre Maria Isabel e o Conde de Iguaçu não foi nenhum pouco feliz, ele batia e traía sua esposa com as empregadas da casa. Entretanto o casal teve cinco filhos:

A primeira nasceu em janeiro de 1849, batizada com o nome da mãe Maria Isabel Caldeira Brant.

A residência da Marquesa de Santos em São Paulo era muito bem frequentada por intelectuais da elite paulista. Domitila era muito respeitada em São Paulo. No dia 19 de julho de 1849 o poeta Álvares de Azevedo escreveu sobre um baile que acabou em tragédia na residência de Domitila.

Na ocasião estava sendo preparado um grande baile em comemoração do nascimento da primeira filha dos condes de Iguaçu, mas infelizmente a primeira filha do casal acabou falecendo.

“O baile que tinha de haver no dia 23 pelo batizado da neta da marquesa, da nobre descendente da casa de Bragança a senhora d. Maria Isabel de Alcântara, transformou-se num enterro. Morreu a linda criancinha de um ataque de convulsões na madrugada da segunda-feira, e nessa noite enterrou-se, com a maior pompa possível em S. Paulo”.

O segundo filho da Condessa e do Conde de Iguaçu, nasceu no dia 18 de novembro de 1850, batizado com o nome do pai Pedro de Alcântara Caldeira Brant.

A terceira criança nasceu em 11 de setembro de 1852, batizada como Maria Teresa Caldeira Brant.

A quarta nasceu em 7 de agosto de 1854, batizada como Isabel Maria Caldeira Brant, provavelmente em homenagem a Duquesa de Goiás.

A quinta e última criança nasceu provavelmente em 1858, batizada como Deulinda Caldeira Brant.

O conde de Iguaçu, marido de Maria Isabel, além de trair e bater na esposa, era viciado em jogos de azar. Ele contraiu dívidas exorbitantes por conta de seu vício.

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O poeta Álvares de Azevedo, deixou registrado que Maria Isabel era uma moça muito formosa e bela.

“A Bela (Condessa) tinha um vestido cinzento que lhe fazia uma cinturinha de sílfide. No colo, numa volta só, lhe corria um colar de finíssimas, digo, grossíssimas pérolas. Nem havia dizer-se as pérolas aí eram o enfeite ou o enfeitado (…)”

Alguns anos depois, o Conde de Iguaçu tentou novamente contato com a Duquesa de Goiás, enviando cartas ao Castelo de Holzen. Isabel Maria que não tinha nenhuma recordação de sua família e ficou chocada quando descobriu que era filha biológica de Dom Pedro I com a Marquesa de Santos. Pedro Caldeira Brandt enviou como provas, as cartas trocadas entre Dom Pedro I e a Marquesa de Santos, nas quais mencionavam Belinha como filha.

SE VOCÊ QUISER ENTENDER MELHOR ESSA HISTÓRIA, ENTÃO ASSISTA O VÍDEO: DUQUESA DE GOIÁS (PARTE I) ISABEL MARIA DE ALCÂNTARA BRASILEIRA

Algumas cartas que estão guardadas atualmente na Biblioteca Nacional, mostram que a Senhora Domitila sempre estava presente na vida conjugal dos Condes de Iguaçu, tentando apaziguar as constantes brigas de marido e mulher. Em uma carta escrita em 3 de outubro de 1851, apenas três anos após o casamento, Domitila fala sobre algumas joias pertencentes a Maria Isabel, que o Conde de Iguaçu teria vendido sem autorização, para pagar dívidas. Em carta Domitila escreveu ao genro:

“Estou bem convencida de que o senhor é daqueles homens que não olham para suas dívidas e nem para o futuro. Eu, sendo mulher, lembro-me do futuro, não tenho expressões com que lhe explique os meus sentimentos. (…)
À vista disto e do incômodo que tenho sofrido por esse motivo, pois nunca pensei que as joias de minha filha fossem empenhadas para se comprar bagatelas (inutilidades), ou para pagar dívidas d’outrem, acho melhor que V. Mce. as venda e pague o que deve porque assim ao menos não ouvirei falar mais nisso, e não terei os dissabores que aí tive.
Sinto falar-lhe deste modo, mas como poderia eu poupar-me a isso, quando o meu coração se acha tão magoado.
Espero porém que o Primo caindo em si reconheça que tem obrado de uma maneira que mostra uma cegueira ou não sei que nós não merecemos e que [não] lhe entreguei uma filha que muito estimava de tão boa vontade e que ao mesmo tempo que V. Mce. não é capaz de fazer o menor sacrifício para me tranquilizar e tirar-me da inquietação em que vivo (…)

A filha da Marquesa de Santos, também não era uma pessoa fácil de lidar. Em carta Domitila repreendia a filha, que queria se divorciar do marido:

“Recebi a vossa carta. Vejo tudo o que nela me dizeis. Já não tenho expressões para vos pedir e vos dizer que não há quem não sofra com seus maridos, as mais virtuosas sofrem, quanto mais aquelas que dão motivos. Tenho também recebido cartas de vosso marido que com razão se queixa dos vossos desvarios. Eu, por desgraça minha, o conheço e mais: vos conheço. Estais sem juízo de todo, e se vos separares de vosso marido separai-vos de vossa mãe, isto vos digo de todo o meu coração.”

O casamento entre Maria Isabel e Pedro Caldeira Brant ia a cada dia de mal a pior. Antes mesmo de 1860, os problemas conjugais deixavam Domitila e Rafael Tobias preocupados com o casal.

Em seu testamento Rafael Tobias de Aguiar deixava registrado que já havia dado 40 contos de réis à “dona Maria de Isabel de Alcântara Bourbon, cuja quantia entreguei no ato do seu infeliz casamento com o conde de Iguaçu”.
Até mesmo o Imperador Dom Pedro II, meio-irmão de Maria Isabel ficava horrorizado com a situação do casal. No ano de 1862, Dom Pedro II recebeu um amigo da Marquesa de Santos, chamado João da Silva Carrão em seu palácio. o conselheiro João Carrão contou ao Imperador toda a situação que sua irmã passava na mão de seu marido e também contou que nem Domitila, nem o Conde de Iguaçu, eram capazes de segurar Maria Isabel que tinha um mal comportamento, Dom Pedro II ficou assustado e acabou respondendo com um “Não creio!”.

Maria Isabel e Pedro Caldeira Brant se odiavam e nunca conseguiram se reconciliar. Dessa forma, o casamento desandou de vez, e Maria Isabel passou a se envolver com um homem, com quem teve filhos bastardos, e o Conde de Iguaçu, também continuou a se envolver com outras mulheres, com quem teve filhos bastardos.

Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, achava um escândalo sua filha ter filhos fora do casamento e condenava o ato, pedindo insistentemente que o casal reatasse.

O casal passou a morar em residências diferentes no ano de 1862, após 14 anos de casamento. A Marquesa de Santos acabou falecendo em 1867 e após 12 anos de separação, Maria Isabel entrou com um pedido de divórcio, conseguindo se divorciar oficialmente em 26 de abril de 1874.

Na ocasião Maria Isabel acusou o ex-marido de ter a feito pedir dinheiro para sobreviver e a expulsado se sua própria residência. Muitos relatos afirmam que Pedro Caldeira Brant, o Conde de Iguaçu teria espancado sua esposa, que ficou muito ferida. Além disso, Maria Isabel acusava o marido de adultério com muitas mulheres.

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No final de sua vida, a Condessa de Iguaçu passou a morar na Rua dos Protestantes, na casa de nº 31, localizada no bairro de Santa Efigênia, em São Paulo. Ela vivia na casa com apenas uma empregada. O historiador Victor Figueira de Freitas, que era seu vizinho quando criança, lembra que Dona Maria Isabel era uma senhora muito grosseira e mal-educada. Falava muitos palavrões e xingava a todos por “nomes feios”.

Aos gritos a senhora idosa dizia “Eu não sou condessa de Iguaçu, sou condessa de Água Suja”

Quando a Marquesa de Santos faleceu no dia 3 de novembro de 1867 em seu testamento deixou registrado que Maria Isabel deveria receber 50 contos de réis, mas Ana Alves de Castro, viúva de Felício, o filho mais velho de Domitila, começou a brigar pelo dinheiro da Marquesa. Essa briga entre Ana Alves de Castro e Maria Isabel se arrastou por mais de 20 anos. E Maria Isabel conseguiu receber sua herança somente ano de 1887.

O ministro Rodrigo Otávio, conheceu a Senhora Maria Isabel já idosa, sobre a irmã de Dom Pedro II, o ministro escreveu:

“Conheci pessoalmente a condessa de Iguaçu e, pelos meus dez anos, tive muitas ocasiões de vê-la de perto. Meu pai foi seu advogado. (…) Era uma velha adiposa, feia, com uma belida em um dos olhos, e sem elegância no trajar. Falava muito alto e dirigia-se a todos, referindo se sempre, de modo brutal, ao imperador e a figurões da Corte.”

Maria Isabel de Alcântara Bourbon acabou falecendo em São Paulo em setembro de 1896, vítima de arteriosclerose.

Seu corpo foi sepultado no cemitério da Consolação, ao lado de sua mãe Domitila de Castro.

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FONTES & LIVROS:

O prazer do percurso. Um passeio pela paisagem histórica do Botafogo. Casa Rui Barbosa. Disponível em: http://www.casaruibarbosa.gov.br/oprazerdopercurso/lugares.htm

Colégio de Mr. e Mrs Hitchings. Dami Museu Imperial. Disponível em: http://dami.museuimperial.museus.gov.br/handle/acervo/9963

Colégios-internatos nas páginas do Almanak Laemmert (1845 a 1889) Joaquim Tavares da Conceição (Universidade Federal de Sergipe).

Crianças indo para o Colégio Hitcchings em Botafogo. Saiba História. Pesquisa de José Carlos Capella. Postado no blog por Adinalzir Pereira Lamego. Disponível em: https://saibahistoria.blogspot.com/2019/03/criancas-indo-para-o-colegio-hitchings.html

Preocupações com a educação physica: o ensino de práticas corporais nas escolas fluminenses (1836 — anos 1850). Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022018000100485

Internar para educar: colégios-internatos no Brasil (1840 –1950). Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em História Doutorado em História. Disponível em: https://docplayer.com.br/9242563-Internar-para-educar-colegios-internatos-no-brasil-1840-1950.html

Nísia floresta e o Colégio Augusto. Os colégios de meninas no Império Brasileiro. Flavia Pacheco Alves de Souza. Disponível em: https://historiadaciencianobrasil.wordpress.com/sociedade-e-educacao/nisia-floresta-e-o-colegio-augusto/

O imperador Dom Pedro II: as suas crises convulsivas quando menino. PDF — Disponível em: https://www.scielo.br/j/anp/a/P47LqQBDzCgFDp4fBtLyvKp/?lang=en#

D. Pedro: O homem revelado por cartas e documentos inéditos. Autor: Paulo Rezzutti. Editora: LeYa.

D. Pedro II — A história não contada: O último imperador do Novo Mundo revelado por cartas e documentos inéditos — Autor: Paulo Rezzutti. Editora: LeYa.

Domitila — A verdadeira história da Marquesa de Santos — Autor: Paulo Rezzutti. Editora: Geração.

Professora Sabrina Ribeiro

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